terça-feira, 29 de novembro de 2011

A história de uma mulher criança que escrevia poemas com o olhar


Apareceu vinda dos sonhos.

Cruzou-se comigo um dia por acaso naquela terra do nunca onde as paixões acontecem na troca de um olhar onde vivem milhares de fantasias que se abraçam como se fossem duas folhas de um só poema a fazer amor.

Assim apareceu Pipa.

- Deixem que me apresente. O meu nome é Pipa mas não gosto que me chames Pipa. Talvez gostasse de ser chamada de Pipinha, mas apenas por ti, porque Pipinha é demasiado piegas. Eu não sou piegas. Quer dizer, às vezes até sou, mas só gosto de coisas piegas quando toca a assuntos do meu coração e como tal só quem vive dentro dele pode partilhar fantasias de uma criança mulher.

Pipa tem os olhos verdes a pele branca e macia, habita no vale sedoso de uns lençois de magia, onde mistura o amor de mulher com as fantasias e as brincadeiras de criança. Vibra com a primeira música que conheceu quando saiu do seu canto. O paraíso do olhar que resplandece aquele brilho apelativo dos abraços fortes e sentidos, que não se podem descrever nem muito menos escrever.

Passeia-se com as mãos nas ancas e sorri envergonhada quando lhe peço um sorrisinho.

Pipa, essa menina que um dia, por acaso, cruzou-se comigo naquela terra do nunca onde as paixões acontecem na troca de um olhar onde vivem milhares de fantasias que se abraçam como se fossem duas folhas de um só poema a fazer amor. A escritora de poemas simples vasculhados na sua musicalidade. A menina dos poemas curtos, expoentes de pequenos mimos e ambições.

- Vamos achar uma coisa?

- Vamos achar uma coisa como?

- Achar uma coisa no chão. Há muito tempo que não acho uma coisa no chão. Fico feliz quando acho uma coisa no chão.

Também, tal qual Pipa, também eu me sinto feliz com essas pequenas surpresas. Os pequenos grandes momentos felizes, parece que estamos a chegar longe em passos pequenos.

Pipa foi embora. Desapareceu como aparecera. Deixei de a ouvir dizer; "fala comigo... tenho fome" - com voz terna e melodiosa, sempre a dois passinhos do sono.

Uma destas manhãs, de novo a sós com as ruas frias da cidade, encontrei uma coisa no chão. Era um cronometro.

Um sinal, talvez, pensaria Pipa.

O sinal de que agora tudo corria contra o tempo. Que passa amarguradamente devagar mas quando abrirmos os olhos, ficará apenas a recordação dos instantes felizes e especialmente...

daquele dia que por acaso, naquela terra do nunca, onde as paixões acontecem na troca de um olhar onde vivem milhares de fantasias que se abraçam como se fossem duas folhas de um só poema a fazer amor.

Pipa foi embora e não voltou.

Mas todas as noites chega o seu sorriso que a pedido me leva a voar de mãos dadas pela noite.

As mãos soltaram-se e Pipa foi-se embora. Regressa todas as horas do meu dia, entre sorrisos marcados no meu pensamento e melodiosa parece querer-me dizer que tudo foi apenas um sonho e todos os sonhos acabam um dia.

Desta vez, foi Pipa que escolheu voar.

por Nuno Teixeira



domingo, 27 de novembro de 2011

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Aqui & Aí



Jazz & Blues - Arco na Íris

Tango & Bossa New - Deliriu Αγνή

Valsa & Salsa Nós - Emboscada

Merengue & Minuetos - Cá dedos

Rock &Flamenco Rubro and Roll

Carne Etc & Tal

sábado, 12 de novembro de 2011

O fim deste nosso outono



Nos quatro pontos cardeais os vigias defendem o

sono cansado da tribo ou rebanho de gente que

vagueia pelos campos



Um homem ao norte uma mulher ao sul outro

homem a oriente e a ocidente a segunda mulher



Estão sentados de pernas cruzadas atentos a

todas as sombras e gritam quando há perigo



Mas porque os perseguidores não gostam de

atacar na escuridão a noite decorre muitas vezes

calma apenas fria



Ao amanhecer a tribo acorda e divide-se em

quatro grupos conforme os pontos cardeais e vai

agradecer aos vigias a vida conservada



Depois o homem do norte e a mulher do sul o

homem do oriente e a mulher do ocidente juntam os

sexos porque assim foi decidido que deveria

acontecer todas as manhãs



Enquanto a união dura cantam em redor a única

canção feliz que não esqueceram



O sol levanta-se sobre os quatro corpos nus que

são a esperança inconsciente da tribo



Entretanto acende-se a primeira fogueira e o

fumo azul da lenha sobe para o céu



(José Saramago. O Ano de 1993. 1975)

...reticências são gotas de mar alto onde se afogam palavras...



(L.Reis)

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Carne - Viva


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Dizer do corpo
o corpo da poesia
...

Pensar do corpo
o corpo da poesia
...

Escrever do corpo
o corpo da poesia
...
 

(O Corpo, Dois Corpos - Maria Teresa Horta)

Touch me

A flor do espinho

Nas paredes frias do cinza azulejado
Ranhuras aradas pelas patas brutais do homem
Sulcos verticais, veias transparentes
Pendurados no teto os ilustres vagalumes
Asas de um colibri selvagem
Casulos feito um móbile
Entra o vento, nasce em flor.
Ah bruta flor!