quarta-feira, 4 de maio de 2011

Ave Maria de Maio.



Acordou sobressaltada durante aquela noite. Sentiu necessidade de verificar no escuro os vãos e desvãos do quarto e demais cômodos da casa. Não trazia junto o medo de supostamente se deparar diante de algo ou alguém estranho ao ambiente.

Maria, retalhava olhares diante de persianas imaginárias. Alcançava estrelas e cometas pelo lastro do pensamento; um ser noturno que conjugava a escuridão ao cerrar os olhos e implorar pelo descanso do sono. Aguçava os sentidos ao tatear a geometria dos objetos que desenhavam seus limites. Debruçava-se nas janelas e mirava os postes estéreis de luz. Havia sempre uma a brincar naquele olhar perdido no horizonte em perspectiva angular.

Mantinha em segredo o desejo de rezar diante daquele mundo alcançável. Sabia, que naquele quadrado, continha um grão de sua real grandeza e perplexidade. Usava o olhar para ascender aos céus. Diante do silêncio, proferiu uma prece na restinga do quarto. Perguntava-se do ajoelhar... Prostrou-se diante do chão e reverenciou o azul-lençol feito mar no revestimento do seu leito. Tinha dificuldades em fechar os olhos e os ouvidos para o azul-janela. Decidiu enrondilhar-se na cama e se aquecer com o próprio calor do corpo. Segurava os joelhos e alma. Tinha pena de ambos. Ligada ao cordão universal , acendia estrelas e móbiles não identificados no opaco do teto de seu mundo. Fechou os olhos, aceitando a exaustão como dádiva.

Acorda para uma manhã luminosa e quebrantável. Ainda descalça, percorre o desenho das vias de acesso ao espelho que depositou a imagem de quem pode escorrer água pelo rosto sem o tempero do sal. Seu fraco era o doce. Seu café era forte...Maio chegara com ventos sorrateiros e devastadores. Durante a noite, os sopros são escuros e inaudíveis  feito  o silêncio do mundo de Maria.


Enquanto a água mansa não borbulhava, decidiu visitar o vaso de flor de maio. Mirou a janela e só conseguiu identificar alguns objetos, casas, rua e árvores dançantes que estavam desde sempre. Vagou o olhar por toda a extensão da janela à procura do cachepô e pêndulos de promessas verdes. Desceu o olhar com tamanha rapidez e avistou os pés nus. Aos poucos foi caminhando até a janela e seguiu o rastro de terra dispersa no chão e cacos da louça espalhados. Sem esforço nenhum, ajoelhou-se com a serenidade dos que penam, dos que lamentam. Juntou o que restou do sonho de flor e plantou maio na alma com as mãos açucaradas pelos grãos de terra.


Ave Maria que não soube da flor,  saberá de maio.

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Um albatroz disse